As malas de garupa — um item campeiro de respeito

Bueno, essas peças da indumentária campeira são conhecidas como mala de garupa, porque, no tempo de antanho, eram jogadas sobre o lombo do cavalo, bem ali na garupa mesmo. Eram feitas de couro, e o nome mais antigo que se dava pra elas era peçuelos.

Conforme tá lá no dicionário, trata-se “duma espécie de alforje, dividido no meio, que se bota na garupa e serve pra levar roupas e outras tralhas”. E veja bem: tudo era feito com couro cru — às vezes, ainda com o pelo ou então bem lonqueado por fora — coisa bem rústica, como todo aparato campeiro lá do fundo dos tempos.

Já a mala, como a gente conhece hoje, era feita de pano grosso, tecido pelas índias nas reduções guaraníticas, desde lá dos anos 1600 e pouco.

Dentro da mala campeava de tudo: os avios de fumar — palha, canivete, rolinho de fumo — e também o necessário pra matear: uma bomba, um pouco de erva mate e a cuia. Além disso, não faltava um naco de charque e um punhadito de sal, que era ouro em pó pra um assado bem campeiro ou pra cuidar de algum ferimento da lida.

O gaudério mestiço, que vivia batendo perna pelos campos afora, adotou a mala como parceira inseparável. Quando não tava a cavalo, ia a pé com ela pendurada no ombro nas andanças por bolichos de campanha, canchas de carreira, bailantas de ramada ou fandangos dos bueno. Os peçuelos de pano guardavam as miudezas do dia a dia do vivente.

Mais tarde, o colono, tanto o português quanto o espanhol, viu a serventia da coisa e também passou a usar. A dita cuja é feita com tecido forte, escuro, geralmente de brim riscado — trapo que aguenta a pauleira do campo.

Era muito usado aquele pano de colchão com listras. O tamanho padrão da mala é de mais ou menos 1 a 1,20m por 40cm, costurada nas pontas com reforço, e um rasgo no meio pra meter as tralhas. E do jeito que é feita, nada cai de dentro, mesmo sacudindo no trote do cavalo.

O campeiro, de regra, carrega ela no ombro esquerdo. No direito vai o pala — de lã grossa no inverno, lãzinha no outono e pala de seda no verãozão. A não ser que o vivente seja canhoto, aí inverte a coisa toda.

Nos dias de hoje, essa mala ainda é muito usada em rodeios, cavalgadas, fandangos, churrascos e afins. É prática, útil e virou uma peça estilosa da indumentária crioula, firme e forte na lida do nosso pago.